O sentimento é quase sempre o mesmo e expressa-se quase sempre da mesma maneira “não era bem o que eu queria, mas não consegui dizer que não”. Esta dificuldade monstruosa em conseguirmos ser quem somos e assumirmos a nossas necessidades e desejos é inúmeras vezes (demasiadas) atropelada, pela ainda maior necessidade de agradarmos aos outros.
Mas afinal de onde vem esta necessidade? Esta é uma pergunta milionária, e certamente não tem apenas uma resposta certa, tem tantas respostas como pessoas a quem possa ser feita. A sua origem pode ser variada, mas certamente relaciona-se com a nossa história, com as nossas vivências e experiências, mas também com o nosso contexto cultural.
As nossas vivências e experiências, começando nas mais precoces, podem de certa forma nos ter “ensinado emocionalmente” que se nos mostrarmos tal e qual como somos, os outros (neste caso as figuras cuidadoras) podem ficar desagradados, podem zangar-se e corremos o risco de perder o seu amor, por isso começamos a “esconder” o que sentimos, não mostrando as nossas verdadeiras emoções, com medo de desiludir o outro, com medo que este se zangue e que nos abandone.
Ao longo do tempo a “aprendizagem emocional” que fazemos é que temos de ir ao encontro do que os outros precisam, sendo sempre isso o mais importante. As nossas necessidades e emoções ficam reservadas para segundo plano. Estas vão ficando cada vez mais submersas em nós, de tal forma que o nosso verdadeiro Eu sucumbe. Passamos a usar uma capa, a capa que achamos que os outros vão gostar.
Passamos a usar esta capa sempre, com a nossa família, amigos, no trabalho, e quanto mais a usamos mais difícil é deixá-la, e como consequência, vamos nos “esquecendo” de quem somos, sendo cada vez mais difícil dizermos o que estamos a sentir, o que queremos, o que pensamos.
A psicoterapia é uma possibilidade para despirmos esta capa e resgatarmos o nosso verdadeiro Eu. Esta não é uma tarefa fácil, pois para além de termos de despir a capa que vestimos, há demasiado tempo, temos que descobrir quem realmente somos. É uma viagem que se faz na companhia do terapeuta, uma viagem longa, mas sem dúvida recompensadora.