Sempre que uma mulher pisa a relva de um campo de futebol, calça as luvas, finta um estádio cheio, prende o cabelo e respira fundo… quebra muros!

Derruba padrões, compete com olhares duros, silêncios ensurdecedores, murmúrios perturbadores e uma jornada carregada de obstáculos. Dá o salto em altura em séculos de preconceito, dispõe de equilíbrio numa prancha de desigualdade, dribla curvas e contracurvas de risos contrafeitos, enfrentando o adversário com resistência e obstinação.
O Desporto é um excelente meio de valorização social, assumindo uma importância determinante na formação integral das crianças e jovens, no aumento da sua autoestima e saúde, na sua capacitação e empoderamento, bem como no domínio de realização e bem-estar das mulheres em todas as idades. A palavra desporto associa-se a sentimentos positivos e benéficos como a satisfação, o fair-play, a competição saudável, o bem-estar físico e psicológico, entre tantas outras (European Comission, 2014). Por conseguinte, não podemos aceitar a desigualdade de oportunidades e a discriminação que muitas jovens e mulheres continuam a ser alvo (atletas, treinadoras, dirigentes, árbitras, staff técnico). Neste sentido, é necessário criar políticas, meios e promover ações para impulsionar o desenvolvimento de boas práticas neste domínio.

No artigo 23º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia está definido: “Igualdade entre homens e mulheres – Deve ser garantida a igualdade entre homens e mulheres em todos os domínios, incluindo em matéria de emprego, trabalho e remuneração. O princípio da igualdade não obsta a que se mantenham ou adotem medidas que prevejam regalias específicas a favor do sexo sub-representado”.

Se estivermos informados e atentos para quem está envolvido no desporto, verificamos que ainda hoje a maior parte dos praticantes, treinadores, árbitros e dirigentes são homens. As mulheres continuam a ser uma significativa minoria no desporto em Portugal e a realidade atual é que estão sub-representadas em todos os níveis, funções e esferas de competência do desporto – na prática desportiva, nas funções de decisão e influência, no reconhecimento público.

A igualdade de género é um valor fundamental da União Europeia e uma força motriz do crescimento económico (Comissão Europeia, 2015). De acordo com a Amnistia Internacional (2008), a desigualdade de género expressa-se na baixa percentagem de participação feminina, na dificuldade que as mulheres têm em relação aos homens em construir uma carreira, bem como na maior visibilidade e audiência nas competições masculinas.
A primeira vez em que as mulheres competiram em todos os desportos nos Jogos Olímpicos foi em 2012, em Londres (Comissão Europeia, 2014), o que leva a crer que a luta pela igualdade de género no desporto é, para além de recente, uma luta com um longo caminho pela frente.

Bárbara Faria