«As pessoas não percebem porquê, mas eu não consigo sair da relação em que estou. Eu sei que me faz mal (muito mal!), mas não consigo deixá-la. As pessoas só veem as alturas em que ela me trata como se eu não valesse nada, mas há outras em que ela me faz sentir tão bem — dá-me carinhos e afetos como nunca ninguém o fez, faz-me sentir único, especial… —, eu não consigo deixar esta relação. As pessoas não percebem, nunca vão perceber…». Várias foram as vezes em que ouvi relatos como este, que tão bem ilustram a dinâmica das relações violentas.

Esta caracteriza-se por um ciclo composto por três fases: o aumento da tensão, o ataque violento e a lua-de-mel. O ciclo é contínuo e sistemático, podendo variar em duração e intensidade (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, 2010).
A fase do aumento da tensão corresponde à altura em que as discórdias entre o casal vão sendo mais frequentes e/ou mais intensas, aumentando a sensação de iminência de um ataque violento, bem como o medo a que esta sensação corresponde.

Esta fase culmina no ataque violento, que pode corresponder a uma agressão verbal, física, sexual, social ou a uma combinação destas. Este ataque pode ser mais ou menos violento, mas a situação mais comum é que aumente de intensidade à medida que a relação avança.

A lua-de-mel corresponde à fase em que a pessoa que agrediu a outra pede desculpa, mostra arrependimento, faz juras de amor eterno e promessas de mudança. Infelizmente, a situação mais comum não é a mudança de comportamento da pessoa que agride, mas o início de um novo ciclo.
Embora muitas vezes possa ser difícil perceber para quem está de fora, a relação não se cinge à fase do ataque violento. É pela dinâmica do ciclo (e não pela existência de agressões!) que é tão difícil para as pessoas que são agredidas saírem de uma relação violenta.

Naturalmente, estamos a falar de relações humanas. Como tal, existem outras variáveis na equação: os fatores económico-sociais; as crenças face a si próprio/a, aos outros e ao mundo; e as expectativas depositadas nesta relação particular têm um papel muito importante. Além destas, existe um denominador comum a estas relações: o medo. O medo é uma emoção que bloqueia. O medo faz-nos ficar no sítio em que estamos, embora muitas vezes este seja o sítio que nos faz estar mal.
Pode haver quem não perceba, mas não será o caso de um(a) profissional. Um(a) profissional ajudá-lo/a-á a identificar o ciclo da sua relação; ajudá-lo/a-á a conhecer-se a si próprio/a; ajudá-la/o-á a perceber melhor de que forma é que se relaciona consigo, com os outros e com o mundo, para poder mudar as crenças que tem hoje, aqui e agora. Mudando estas crenças, conseguirá mudar o comportamento que delas decorre. Conseguirá quebrar o ciclo supramencionado e sair dessa relação.
Pode haver quem não perceba, mas acredito que não seja o seu caso. Peça ajuda.