O corpo nasce com a mente, a psique cresce com o corpo e o corpo com a psique. O erro de Descartes parece que foi a separação da mente do corpo. Quando há mal estar psíquico há mal estar físico, e assim também podemos dizer vise-versa, quando há desconforto do corpo há desconforto da psique.
O self é corpo e mente e as suas inter-relações, a mente cria uma imagem do seu próprio corpo.

A representação do corpo, ou a ideia que temos do nosso corpo, na sua função e aspeto, é importante para o nosso desenvolvimento narcísico saudável, ou boa autoestima.
Na minha prática clínica tenho visto que a “ gorda” e o “gordo” sofrem muito, mesmo não o sendo, têm histórias indetermináveis de exposição, preocupação permanente da família em relação ao que come, piadas na sala de aula, piadas dos irmãos e mesmo dos pais. A imagem do seu corpo fica como vergonha.

Na pré-adolescência e adolescência muitos gordos e gordas mudam, muitos com esforço, fartos de serem segregados e humilhados, outros com pouco esforço e outros nunca.
Decretou-se que um corpo bonito e perfeito, seria ser magro, e todos sabemos como cada vez mais a imagem é o mais importante, uma imagem aperfeiçoada, ideal. Se sempre houve distúrbios alimentares, hoje em dia piorou e tem vindo a piorar. Entre uma sociedade com alimentação fast food, e exigência do ideal de perfeição de corpo magro, fica-se entre a espada e a parede.

“Sou gorda”, diz-me a adolescente não o sendo. Ou “ dizem-me que sou gorda e gozam comigo na escola”, diz a criança de 10 anos, com as lágrimas a rolarem-lhe nas faces, ou “ hoje com esta idade já não me importo mas eu sempre fui a gorda” diz uma mulher de setenta anos”, que sempre o foi mas continua num desconforto na relação consigo. Mas o problema não é ser gordo ou magra, é sentir-se mal no seu corpo. É ter uma conceção de um corpo não desejado pelos outros e por si. Ter vergonha do corpo dá grande sofrimento, podendo ser uma das causas de graves distúrbios alimentares.