Para o Natal de 2022, a Vodafone Portugal preparou uma campanha cujo tema é a saúde mental. A campanha procura normalizar a partilha de sentimentos e a procura de ajuda psicológica, questões muito pertinentes e, como tal, com alvos essenciais de visibilidade por parte das marcas.

Na Blindtalk, valorizamos todas as acções que possam chamar à atenção para estas questões, pois também são a razão do nosso projecto. No entanto, o tema é complexo e os anúncios de televisão são limitados na quantidade e qualidade de informação que conseguem partilhar, pelo que todo o esclarecimento é pouco, neste empreendimento que é a normalização da ajuda psicológica. Devo dizer que não sou o maior adepto da romantização destes temas. Percebo a tentação de «retirar peso» à mensagem, mas esta é mesmo pesada e, não raras vezes, contém uma linha que separa o viver do não viver. São necessários olhares concretos e objectivos e nunca, em momento algum, podemos deixar o curso destas problemáticas ao acaso.

Pedir ajuda é muito difícil e pode até parecer um beco sem saída: se não peço ajuda, posso ficar congelado na minha vida, mas, se penso em pedir ajuda, sou assaltado pelo medo de ser mal acolhido. Num processo tão delicado, todos contamos, pelo que me parece pertinente explorar alguns pontos fundamentais que podem — e devem — ser usados como orientadores desta experiência.

A premissa mais importante a compreender é a de que o sofrimento psicológico não é um problema individual. A dificuldade nasce sempre da relação interpessoal e é frequente que a procura de ajuda psicológica não aconteça devido às pessoas próximas. Estereótipos e informação errada acerca da saúde mental complicam algo que poderia ser simples. Mas, infelizmente, ainda são muito comuns comentários como «isso não é nada», «isso está na tua cabeça», «precisas é de te ocupar, vais ver que isso desaparece», «só não passas à frente, porque não queres», «isso são manias», «és fraco da cabeça», «és muito sensível»… a lista é interminável.

Preconceitos todos temos, mesmo quando não nos apercebemos deles. No fundo, esse é o resumo do problema da saúde mental: as pessoas pensam que só está na cabeça delas aquilo que conseguem pensar, e logo essa, que é a menor parte. Lembra-se daquela metáfora freudiana, que compara a mente à ponta de um icebergue? É muito kitsch, mas também é muito verdade. São esses preconceitos que eu desconheço em mim, que me impedem de incentivar alguém a procurar ajuda especializada com psicólogos, e receberem, assim, a ajuda adequada. As pessoas próximas estão, frequentemente, mais bem colocadas para se aperceberem de que algo de diferente se está a passar com alguém, embora não seja menos frequente a impossibilidade de notar alterações em quem está a sofrer. Infelizmente, para estas últimas são precisas medidas que não estão ao alcance de familiares e amigos, pelo que aqui me concentro no possível. Não é incomum que a pessoa em sofrimento negue o seu sofrimento. Isto pode acontecer por, pelo menos, dois motivos: a pessoa sabe que está mal, mas ainda não encontrou forma de falar nisso; ou, também frequente, a pessoa não se apercebe de que está mal, ainda que isso possa ser óbvio para as pessoas à sua volta. Qualquer dos casos pode ser muito frustrante para quem tem de lidar com o resultado da perturbação no quotidiano, até ao ponto de perguntar, repetidamente, «porque não pedes ajuda?». É neste ponto que proponho um exercício de empatia. Em boa verdade, se fez esta pergunta, é provável que nunca tenha estado numa situação-limite. Ainda bem. Mas eu não estaria a escrever para um ser humano se, quem me lê, não tiver experimentado em algum momento o sentimento de ira. Nesses momentos, conseguiu conversar? Pensar? Talvez tenha tido de esperar algum tempo. E como o tempo é subjectivo — e o tempo mental é diferente do tempo cronológico—, ficamos com a certeza de que cada um terá o seu tempo e que não há razão para que esse não seja respeitado. Será necessária muita paciência e encorajamento para que a situação se possa encaminhar da melhor forma.

Termino, propondo um segundo exercício, que estará equiparado a um acto de bravura. A pergunta a fazer a si próprio é simples: qual a minha contribuição para que aquela pessoa não consiga pedir ajuda? Posso dar uma ajuda para encontrar a resposta: se lidar com este tipo de situação sem crítica, sem acusações, sem insistência, sem julgamento, e respeitando o tempo da pessoa, poderemos afirmar, com relativa segurança, que não está a ser um impedimento para esse pedido de ajuda.

O caminho para entender o que se passa com outra pessoa passa, inevitavelmente, por nos conhecermos a nós próprios. Apenas nos podemos aproximar da experiência de outra pessoa se nos tentarmos colocar no seu lugar. É só uma aproximação, mas é muito valiosa para as duas pessoas envolvidas.