Ao longo do nosso percurso de vida, raramente nos é proposto olharmos para nós próprios. Se recuarmos um pouco na história e na cultura ocidental, ainda mais difícil se torna encontrar exemplos de exercícios de autorreflexão, autoconhecimento ou autoinvestimento.

É assim compreensível que estes sejam exercícios pouco intuitivos para a grande maioria de nós. Quando procuramos um psicólogo, este é talvez o primeiro grande desafio: aprendermos a olhar para nós mesmos, com curiosidade, generosidade, aceitação e compromisso. Este exercício desafia-nos a posicionarmo-nos com distanciamento em relação aos nossos pensamentos, às nossas emoções e aos nossos comportamentos, o que se, por um lado, provoca estranheza e novidade, por outro, induz poder: o poder de escolher e de transformar.

A consciência dos nossos estados e processos mentais, emocionais e comportamentais é um statement, uma assunção de uma posição de poder sobre nós mesmos, que nos proporciona e impulsiona a uma autoria da nossa própria história.

Este é o resultado da psicoterapia. A pessoa que se envolve num processo psicoterapêutico torna-se progressivamente autora da sua própria história, reescrevendo, muitas vezes, a história que viveu até ao momento, com um olhar mais coeso e coerente com os seus valores e opções.

A disponibilidade e a flexibilidade para experimentar lentes e olhares são assim um requisito, mas que pode ser trabalhado e desenvolvido no contexto da própria psicoterapia. O conforto e a segurança deste espaço permitem a liberdade de pensamento e ação necessárias para que as opções se multipliquem e as decisões se gerem de forma espontânea e genuína.

Todas as competências, ferramentas e aprendizagens decorrentes do processo psicoterapêutico, sendo ele circunscrito (ainda que variável) no tempo, permanecem disponíveis para os futuros desafios de vida, contribuindo para uma coerência, autorrespeito e auto-amor diferenciadores e impactantes.

 

* Psicóloga clínica