Vivemos numa era de absoluta desconexão, embora estejamos cada vez mais ligados e «conectados» através do universo online. Estamos a ser conduzidos para um estado de abandono pelo ritmo acelerado diário, pelo individualismo, por feridas internas de culpas, medos e raivas, por uma cultura narcísica e pelo hedonismo.

Estudos demonstram que a maior influência da felicidade humana é o afeto, o contacto, o abraço… O ser humano é dependente de relacionamentos, e o toque a cura para a alma.

Cada vez mais observamos um abandono de crianças, jovens e adolescentes que ficam horas diárias, dia após dia, em frente a um monitor.

Nós, adultos/pais, pensamos que os nossos filhos estão distraídos e que se divertem, quando, na verdade, por detrás desse comportamento, estão a distrair-se de uma dor, da falta de conexão, de contacto, de afeto, de familiaridade e direção.

O vício entra onde há uma dor, e as nossas crianças estão a pedir ajuda num grito silencioso. Por detrás de uma criança viciada no digital, há uma criança desesperada por ser cuidada.

Cuidar do outro é uma maneira de cuidarmos de nós. Por detrás da dificuldade de criar uma conexão real, de dar um limite, de preservar os seus valores, estão uma mãe e um pai fragilizados, que acabam por ter um posicionamento parental demasiado permissivo.

Muitas vezes, os pais querem ser «amigos» dos filhos, crendo que o seu papel é fazê-los felizes, acabando, eles próprios, perdidos. É importante o adulto fazer uma simples reflexão: «Estou a ser uma mãe/um pai que se respeita? Tenho orgulho na mãe/no pai que sou?»

A verdade é que é possível resolver duas questões numa só: o adulto, ao cuidar de uma maneira diferente do seu filho, vai aprender a cuidar de uma maneira diferente de si.

É importante entender a natureza e a essência do que um filho realmente precisa para se desenvolver plenamente. Se não entendermos as propriedades e características de um bom desenvolvimento da criança, o adulto perde-se.

De onde vem a nossa força vital? Vem de vínculos, de toque, de limites, de afeto, do sono… Se compreendermos esta natureza das necessidades humanas, conseguimos aceitá-las e comandá-las, ajustando-nos a uma vida mais saudável e equilibrada.

Educar é tudo aquilo que gera saúde ou crescimento nos filhos. Não é bater, castigar, gritar, ignorar, ameaçar. Filhos respeitam pais e mães que se respeitam. A partir do momento em que se torna necessário gritar, bater, castigar, gritar, ignorar, ameaçar, o adulto está a humilhar-se e a retirar autoridade. Educar é comunicação, presença, gestão, negociação, limites e afeto.

Portanto, educar os filhos na era digital é educar para uma mentalidade direcionada para a saúde, para um pensamento reflexivo que ajude o filho a desenvolver e a construir essa autonomia de pensamento.

O uso do monitor devem portanto, ser equilibrado. Dos 0 aos 6 anos a criança não deve ter acesso a qualquer tipo de equipamento tecnológico. Nessa fase, precisa de brincar, pintar, saltar, correr, dançar. Deve ter sempre por perto um bloco de papel de desenho, canetas coloridas, plasticina e um jogo. Depois dos 6 anos, a criança pode ter acesso 30 minutos por dia. Dos 6 aos 12 anos, deverá usar o digital de 30 minutos a 1 hora. Após os 12 anos, o jovem deverá usar 1 hora diária no máximo.

Felicidade é uma construção diária de uma vida com valores, limites e amor. Há uma confusão entre prazer e felicidade e, por isso, muitas vezes acabamos por aceitar, dar, permitir, pagar, numa tentativa de encontrar atalhos para que o filho seja feliz a qualquer custo. Nesta tentativa, o valor do pai, da mãe, do adulto, acaba por ficar diminuto, porque ele próprio não se ouviu, deixando de dar crédito a si próprio e perdendo-se. Portanto, é mais do que necessário encontrar caminhos, referências, ajuda para recriar valores, regras, afeto e limites. É importante o adulto confiar em si, ouvir-se e decidir querer ser melhor, fazer melhor, aprender mais e entregar-se para uma mudança efetiva de mais felicidade e amor. Consigo mesmo — e com os seus.