É urgente abandonar o mito de que a procura de um psicólogo só deve surgir quando nada mais resultou — quando já tentámos conversar com aqueles que nos são próximos, já realizámos todos os rituais de autocuidado que lemos na internet, quando já seguimos todas as «receitas» dos outros —, quando sentimos que já não aguentamos mais. É assustador perceber que muitas das pessoas que nos procuram em consulta só o fazem como recurso de «fim de linha».
Não quero com isto dizer que conversar, estabelecer relações significativas e procurar o autocuidado não possa ser algo positivo — é, inevitavelmente, algo que devemos ter sempre presente como passos necessários para a manutenção da nossa saúde psicológica.
É necessário que a psicoterapia passe a ser encarada também como ação preventiva e não apenas como última reação a momentos de crise, de tristeza profunda e de sofrimento psicológico.
E se for necessário usar a metáfora da linha, então que encaremos a consulta de psicologia como a linha condutora para chegarmos mais perto de nós, como a «linha de vida» que nos devolve a nós próprios em todo o nosso potencial. Que sejamos responsáveis por desatar os nós que encontramos, para chegarmos ao fim da linha do seu lado oposto — do lado onde estamos resolvidos e em paz.
Se está a ler este texto, e se sente a caminhar para o fim desta linha, pare. Não espere que cada passo seja insuportável. Estamos no início da linha, à sua espera, para caminharmos ao seu lado.